“300 anos”: uma resposta ontem e hoje

Padre Marcio José do Prado – Foto: Wesley Almeida

Neste ano, comemoramos 300 anos do encontro da imagem de Nossa Senhora da Conceição no rio Paraíba do Sul, que corta toda a nossa região. A comemoração se dá com grande festa e ênfase, porém o povo brasileiro e, porque não dizer, o povo estrangeiro já fazia festa ao se deparar com a imagem de Nossa Senhora Aparecida. Quantos milagres ocorreram após o encontro da pequena imagem? Aliás, o milagre já ocorreu pelo fato dos pescadores conseguirem pescá-la. Como foi incrível terem encontrado o corpo e depois a metros de distância encontrar a cabeça. Que milagre! Que sinal foi esse?

Mal poderiam imaginar, aqueles simples pescadores, que ali iniciava uma nova devoção à Mãe de Jesus, com o título de “Aparecida”. Embora tenha o nome “Aparecida”, a Mãe de Jesus, é uma mulher discreta, simples, é mãe, talvez por isso cativa, aproxima, conquista, acolhe, ama e indica o caminho da Salvação, que é Jesus.

Há 300 anos, o Brasil vivia um tempo ainda de exploração, de indiferença, de racismo e escravidão. A virgem Aparecida foi uma resposta de Deus àquela época. A imagem estava quebrada, enlameada e de cor escura.

As aparições de Nossa Senhora têm finalidade em Cristo, nunca nela mesma. Aliás, Maria no Evangelho disse: “Fazei tudo o que ele (Jesus) vos disser” (Jo 2,5). Maria, após 300 anos, continua a ser uma resposta de Deus. Ela continua ao lado daqueles que estão com o coração quebrado, que sofrem com a violência, com as guerras, ela está com aqueles que passam fome. Maria está ao lado daqueles que estão enlameados pelo pecado, que são ou estão errantes; daqueles que sofrem com o racismo, com a indiferença; com aqueles que são desprezados.

A manifestação de Deus através da simplicidade de uma imagem da mãe de Jesus é para lembrar a humanidade que ela não é órfã. Tem a Trindade Santa que cuida e a providência divina quis ainda contar com uma figura feminina. Maria não é deusa, ela é a serva do Senhor (Lc 1,38). Quantos filhos antes de ir ao pai vão até a mãe? Muitos e muitos filhos de Deus fazem a mesma coisa. Recorrem à Mãe para que o Filho atenda.

Qual é a mãe que não sofre ou se compadece de seus filhos? Uma mãe em sã consciência não despreza seu filho, por mais que tenha feito escolhas erradas. Ela acredita, queria muitas vezes estar no lugar do filho. A mãe sempre dá um jeito de acolher e de despertar o filho de algum erro.

Por fim, a imagem “encontrada” revela na verdade uma Mãe que encontrou seus filhos. Ela “apareceu” para lembrar a humanidade que existe um Deus que o ama muito, que enviou o seu Filho único para nos salvar (Jo 3,16). A imagem apareceu numa condição desprezível, quebrada, suja, para resgatar a Deus todos aqueles que assim se sentem. A mãe Aparecida deseja vida, condições dignas para seus filhos, o melhor para os seus. Ela deseja o alimento para o faminto, a liberdade em Deus de cada filho, deseja o bem, e oferece o que tem de melhor, assim como um dia ofereceu o seu filho, nosso Salvador Jesus. Filho e filha, você tem uma Mãe que lhe entende, que roga por você e que lhe incentiva a ir adiante: “Fazei tudo o que ele vos disser”.

* Padre Marcio José do Prado, natural de São José dos Campos (SP), é sacerdote da Comunidade Canção Nova e Vice-Reitor do Santuário do Pai das Misericórdias. É autor dos livros “Novena a Nossa Senhora Pietá”, “Entender e viver o Ano da Misericórdia” e “Via-sacra do Santuário do Pai das Misericórdias”, pela editora Canção Nova.

Deixe um comentário

O seu endereço de e-mail não será publicado. Campos obrigatórios são marcados com *

Topo