Atores, estudantes e diretores exercitam o texto teatral por meio da oficina gratuita de Dramaturgia

Oficina de Dramaturgia – Foto: Jefferson Benicio / FCMS

Campo Grande (MS) – Estudantes, atores e diretores teatrais do Estado têm a oportunidade de pensar e exercitar o texto para teatro com a oficina gratuita de Dramaturgia “Experimentações e fluxos de criação”, ministrada pelo professor e dramaturgo Jonathan Andrade, de Brasília. O curso acontece de 13 a 17 de setembro, de quarta a sexta-feira, das 18 às 22 horas e no sábado e domingo das 14 às 18 horas no Centro Cultural José Octávio Guizzo.

A aula desta quinta-feira abordou a potencialidade da escrita. O ministrante, Jonathan Andrade, falou que hoje a possibilidade de subverter o império da semântica do texto é uma necessidade para pensar a visualidade e outras camadas de sentido para além da semântica. “Trabalhamos na oficina a expansão dos sentidos, a possibilidade de cada aluno criar jogos de sentido na composição do texto. A fluição da escrita que a dessacraliza, pois o exercício de escrever tem sido considerado muito sério, dogmático. Temos feito vários exercícios para entender que a potencialidade da escrita é simplesmente fluir”.

Jonathan Andrade, professor e dramaturgo – Foto: Jefferson Benicio / FCMS

Sobre o mercado de trabalho para o autor teatral, o dramaturgo brasiliense diz que enfrenta um abismo intenso. “Pensar em mercado e produção é pensar em um abismo, escalado por muitos artistas, é a realidade da arte como um todo no país. Sobre o meu trabalho, especificamente, há um espaço e um retorno muito positivo. Há 16 anos trabalho para grupos de Brasília e fora de Brasília. Escrever e compor dramaturgia para mim é uma necessidade vital, é uma fome. A oportunidade para cada artista é a gente que cava. Por isso, considero primorosa a atitude da Fundação de Cultura, que entende o fomento desse tipo de trabalho, de encontro de artistas. A gente precisa enaltecer essas iniciativas de intercâmbio cultural. Isso mostra um empenho de que essa cultura encontra iniciativas de potência”.

A oficina está trazendo experiências diversas, porque está sendo frequentada por pessoas de várias idades e diversos níveis de contato com o fazer teatral. “É uma turma bastante plural, de figuras com intimidade com a linguagem teatral e pessoas que vieram justamente conhecer como é essa linguagem. A pluralidade de idades, experiências d expectativas é o que torna a oficina extremamente rica. É uma oficina sobre identidade, para exercitar possibilidades diversas, de potencializar a individualidade e também o coletivo, como essa diversidade alimenta os processos de escrita”.

Issel Oliveira Chaia, estudante de Artes Cênicas da UEMS – Foto: Jefferson Benicio / FCMS

A estudante de Artes Cênicas da Uems, Issel Oliveira Chaia, de 20 anos, participa da oficina para entender como é o processo de criação do trabalho teatral. “O Jonathan não trabalha só, ele vai atrás da história, vai buscar ‘personas’ que vivem a realidade que ele está buscando. É muito legal a abordagem dele, construtivista. Entendo que tem a construção de cenário, tudo baseado no que o autor tenta codificar para transformar em cena. Para mim, é muito difícil, com essa oficina vou ter mecanismos que vão auxiliar na fabricação da dramaturgia”.

Issel participou do grupo Brincarte, com Ramona Rodrigues, e depois de formada pretende trabalhar com teatro buscando movimentar o cenário campo-grandense. “Aqui em Campo Grande tem teatro, tem um movimento, não é à toa que o Jonathan veio aqui dar esta oficina. A cidade precisa ser ocupada nesses centros artísticos. Oficinas gratuitas têm qualidade, como a dele. Pretendo fazer arte para sensibilizar as pessoas, para que elas questionem seu papel na sociedade”.

O diretor teatral e produtor cultural Marcelo Leite, 40 anos, possui mais de 20 anos de experiência com o fazer teatral em Mato Grosso do Sul. É fundador do grupo Fulano di Tal, e quando constituiu o grupo, nos primeiros dez anos era ele quem escrevia os textos. “Depois eu senti que estava sendo repetitivo, aí fui mergulhar em textos de autores conhecidos, como Ariano Suassuna e Chico Buarque. Agora pretendo escrever meus textos, porque você consegue falar com mais propriedade sobre a sua região, a sua cidade, aprofundar mais na regionalidade”.

Marcelo Leite, diretor teatral e produtor cultural – Foto: Jefferson Benicio / FCMS

Marcelo buscou a oficina de dramaturgia como forma de melhorar a qualidade técnica do seu trabalho. “Eu já conhecia o Jonathan, gosto do seu trabalho, isso me instigou a estar na oficina agora. Ele nos orienta a ter um olhar mais aprofundado do ser humano, das histórias que podemos extrair. No simples, tem coisa legal também no clichê, mas o mais legal é como se esquematiza a dramaturgia”.

Jonathan Andrade, o ministrante da oficina é professor de teatro, poeta, ator, diretor, dramaturgo e cenógrafo, bacharel em Artes Cênicas, com habilitação em Interpretação Teatral, pela Universidade de Brasília. É integrante fundador do Sutil Ato, grupo teatral de pesquisa no qual realiza experimentações nos campos da atuação, da cenografia, da dramaturgia autoral e das poéticas narrativas. Em sua trajetória artística assinou a direção de diversos espetáculos. Foi vencedor de prêmios de dramaturgia com os textos “Terra de Vento” e “GuardAchuva” (Funarte) e “Entrepartidas” (Prêmio Sesc de Teatro Candango”.

Quem quiser conhecer um pouco do trabalho do dramaturgo brasiliense poderá conferir neste domingo, 17 de setembro, às 19 horas, no estacionamento do Centro Cultural José Octávio Guizzo, a apresentação do espetáculo “Tsunami”, com o Grupo Sutil Ato, de Brasília. A peça tem classificação de 12 anos e duração aproximada de 70 minutos. A entrada é franca.

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